inspiração. Pinar Yoldas_Kitty Ai - Artificial Intelligence for Governance. TeamLab_Forest of Resonating Lights - One stroke
- Margarida Gil Pires
- 9 de dez. de 2024
- 4 min de leitura
Partilho convosco a minha resposta ao desafio desta atividade, analisando duas obras: Kitty Ai - Artificial Intelligence for Governance de Pinar Yoldas (https://www.pinaryoldas.info/The-Kitty-AI-Artificial-Intelligence-for-Governance-2016) e Forest of Resonating Lights – One Stroke do coletivo TeamLab (https://www.teamlab.art/w/forest_of_resonating_lamps/), com base no “modelo tridimensional
de um espaço de intenção/intervenção” proposto por Veiga (2020). Enquanto Kitty Ai apresenta
um caráter mais passivo e introspectivo, ao explorar questões éticas e sociais, Forest of Resonating Lights adota uma vertente interativa e imersiva, criando uma experiência sensorial e coletiva que envolve ativamente o público.
Na obra Kitty Ai - Artificial Intelligence for Governance, Pinar Yoldas utiliza uma estética cyberpunk e pós-humana, caracterizada pelo uso de animação 3D e de uma narrativa na primeira pessoa. A personagem principal, uma inteligência artificial antropomorfizada inspirada no gato da artista, evoca uma conexão emocional com o público. Visualmente, a obra combina simplicidade minimalista com elementos futuristas, criando um ambiente distópico. A abordagem estética de Kitty Ai conecta o público a questões éticas e sociais, utilizando elementos que reforçam o vínculo emocional. Em contraste,
Forest of Resonating Lights, do coletivo TeamLab, apresenta um ambiente imersivo e onírico. A instalação consiste numa série de lanternas suspensas que emitem luzes multicoloridas em resposta ao movimento do público. O design geométrico simples e o colorido das lanternas contrasta com o espaço vazio, resultando numa atmosfera que mistura o natural com o digital. A interação visual, neste caso, amplifica
a sensação de encantamento e harmonia.
Tecnicamente, Kitty Ai - Artificial Intelligence for Governance utiliza tecnologias de animação 3D
e narrativa audiovisual para criar uma experiência profundamente reflexiva. A narração da inteligência artificial é combina autoridade com acessibilidade emocional. Embora a obra não seja interativa, promove um diálogo intelectual ao convidar o público a refletir sobre o impacto da tecnologia em questões
de governança e empatia. Já Forest of Resonating Lights faz uso de LEDs avançados e sensores
de proximidade para gerar interações em tempo real. O público, ao movimentar-se pelo espaço, ativa mudanças nas cores das lanternas, criando uma relação dinâmica entre o indivíduo e o ambiente. Essa interatividade confere à obra um caráter imersivo, permitindo que ela “respire” com o público. Veiga (2020), no contexto da a/r/cografia, observa que os artefactos digitais se destacam pela capacidade
de estabelecer conexões entre o virtual e o físico, assim como entre conceitos e experiências. Nesse sentido, Forest of Resonating Lights explora de forma exemplar o potencial das tecnologias digitais
para criar espaços interativos e de comunhão sensorial.
A relação estabelecida entre o público e as obras também revela abordagens distintas. Em Kitty Ai,
a experiência é predominantemente introspectiva. A narrativa propõe reflexões sobre empatia, tecnologia e governança, ao sugerir que o fracasso dos sistemas humanos pode levar a um futuro governado
por inteligências artificiais. A obra desafia o público a considerar os impactos éticos dessa possibilidade. Veiga (2020) destaca que as tecnologias de comunicação utilizadas na arte digital frequentemente buscam ampliar o impacto junto ao público, criando pontes entre a obra e a sociedade. Em oposição, Forest of Resonating Lights foca na interação entre o público e o espaço, criando uma experiência sensorial e coletiva. A mudança de cores das lanternas em resposta aos movimentos do público sugere que as ações individuais têm impacto no coletivo. A perceção da presença de outras pessoas na sala
que acontece quando “recebemos” uma luz que chegou de outra ponta da sala, transforma o espaço
num lugar de conexão. Esta relação destaca a interconectividade humana, ilustrando como ações individuais podem influenciar o coletivo.
Do ponto de vista funcional, Kitty Ai utiliza a figura de uma inteligência artificial para abordar questões éticas e políticas como a incapacidade de sistemas humanos em lidar eficazmente com crises globais
e o papel da tecnologia na resolução ou agravamento desses problemas. Essa abordagem converge
com o pensamento de Beiguelman (2013) que argumenta que as inovações tecnológicas estão
a remodelar não apenas o espaço físico, mas também a nossa identidade e as dinâmicas sociais,
levando a uma nova forma de interação e percepção do mundo Nesse contexto, a obra provoca o público
a reconsiderar a governança e a empatia num mundo cada vez mais digitalizado. Por outro lado,
Forest of Resonating Lights incentiva os visitantes a explorar a harmonia entre tecnologia
e as percepções. A interação sensorial e visual com as lanternas cria experiências únicas
para cada participante, sugerindo novos modos de coexistência entre o humano e o digital.
Ambas as obras exemplificam o potencial transformador da arte digital na contemporaneidade.
Enquanto Kitty Ai convida à introspeção e ao questionamento ético, Forest of Resonating Lights destaca
a interação sensorial e a experiência coletiva. Estas abordagens mostram como a arte digital se transforma
e se complexifica, estabelecendo interações profundas com o público, como analisado por Godói (2015).
A noção de experiências reflexivas também se relaciona com a capacidade da arte digital provocar discursos críticos em espaços públicos, fundindo realidade e ficção e conduzindo a um engajamento
mais profundo. O método arcográfico, conforme descrito por Veiga (2020), revela-se uma abordagem valiosa para compreender estas obras, permitindo uma análise abrangente que integra aspetos estéticos, técnicos, relacionais e funcionais, promovendo uma visão enriquecedora da experiência artística
na era digital.

Referências bibliográficas
Beiguelman, G. (2013). Arte pós-virtual: criação e agenciamento no tempo da internet das coisas e da próxima natureza. In Cyber-arte-cultura : a trama das redes (pp. 146-175). Museu Vale.
Godói, V. (2015). A obra de arte não avança nem regride. Transforma-se, complexifica-se. São Paulo.
Veiga, P. A. da (2020). O Museu de tudo em qualquer parte e cultura digital: Inter-ferir e Curar. Grácio Editor. http://hdl.handle.net/10400.2/112655
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