intervenção 4_conceito
- Margarida Gil Pires
- 19 de jun.
- 2 min de leitura

O artefacto de Media-Arte Digital Menstruório é um repositório de testemunhos sobre experiências menstruais. Apresenta-se sob a forma de uma instalação de vídeo interativo que combina animação digital e vídeoarte, numa proposta crítica que expõe os tabus e estigmas ainda associados à menstruação. Fundamentado nas teorias de narrativa transmédia e gamificação, o projeto apresenta-se como uma obra artivista que denuncia questões sociais frequentemente invisibilizadas.
A instalação estrutura-se a partir de três narrativas principais cada uma reveladora de distintas facetas da experiência menstrual em diferentes contextos culturais e geográficos: o Chhaupadi, prática tradicional nepalesa que isola mulheres durante o período menstrual; a precariedade de acesso a água potável e condições sanitárias adequadas enfrentada por milhões de pessoas menstruantes; e o estigma que rodeia a endometriose, uma doença ginecológica crónica amplamente negligenciada pelos sistemas de saúde.
O utilizador é confrontado com 3 escolhas iniciais e a partir daí, usando gestos, pode interagir livremente com a obra, alternando entre as narrativas ou deixando-se levar até ao fim de cada uma. Esta estrutura não-linear proporciona uma aparente liberdade exploratória, porém, sempre que virar a cara, a narrativa o vídeo regressa à introdução, um gesto simbólico que reflete como, perante a ausência de atenção, os estigmas persistem e tudo volta ao ponto de partida.
A possibilidade de alternar constantemente entre vídeos, sem necessidade de os ver até ao fim, evoca também o comportamento de doomscrolling — uma navegação incessante e fragmentada por conteúdos, que reflete a dificuldade em sustentar a atenção num só percurso. Esta lógica reflete um dos grandes paradoxos contemporâneos: num mundo saturado de informação, é precisamente a superficialidade do contacto que impede uma compreensão real. Quando o desconforto se impõe, como no caso da menstruação, a tendência é saltar, contornar, evitar — perpetuando assim o desconhecimento sob a ilusão de informação constante.
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